O Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2024 estima que cerca de 47 milhões de brasileiros estejam envolvidos com algum tipo de negócio, formal ou informal
A taxa de empreendedorismo no Brasil está em 33,4%, segundo o GEM 2024 — Foto: Getty Images
Em 2024, 33,4% da população adulta brasileira, o equivalente a aproximadamente 46,9 milhões de pessoas entre 18 e 64 anos, esteve envolvida em algum estágio do empreendedorismo — desde a ideação até um negócio estabelecido com mais de 3,5 anos.
Mas qual é o perfil predominante entre essas pessoas? Segundo os dados mais recentes do Monitor Global de Empreendedorismo (Global Entrepreneurship Monitor – GEM 2024), realizado no país pela Associação Nacional de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo (Anegepe) em parceria com o Sebrae, o empreendedor brasileiro é homem (53,2%), preto ou pardo (56,6%), de 25 a 44 anos (59,8%), com ensino médio completo (47,4%) e renda familiar média de 3 a 6 salários mínimos (31,2%).
Atualmente, a taxa de empreendedorismo no Brasil está em 33,4% — em 2023 era de 31,6%. O crescimento da Taxa de Empreendedores Estabelecidos — que abrange aqueles com mais de 3,5 anos de atividade —, de 8,7% em 2020 para 13,2% em 2023, contribui para a posição do Brasil no ranking global. No momento, o país é o sexto entre os que têm maior proporção de empreendedores estabelecidos, superando, por exemplo, Reino Unido, Itália e Estados Unidos.
O GEM é realizado desde 1999 e conta com a participação de mais de 120 países. No Brasil, a edição de 2024 entrevistou 2 mil adultos e 58 especialistas. Veja a seguir mais números da pesquisa que retrata o empreendedorismo no Brasil no ano passado.
Quem é o empreendedor brasileiro em 2024?
33,4% da população adulta brasileira, o equivalente a aproximadamente 46,9 milhões de pessoas entre 18 e 64 anos, está envolvida em algum estágio do empreendedorismo. Desses:
20,3% são empreendedores iniciais — ou seja, estão começando um negócio ou têm até 3,5 anos de atividade. Dentro deste grupo, 8,8% são nascentes (com até 3 meses de remuneração) e 11,7% são novos (de 3 meses a 3,5 anos);
13,2% são empreendedores estabelecidos, com mais de 3,5 anos de operação.
Segundo o GEM, a soma das taxas parciais pode ser diferente da taxa total, já que empreendedores com mais de um empreendimento serão contabilizados mais de uma vez.
"Pela metodologia, é improvável que a soma seja exata. Pode haver pessoas que se enquadram em dois estágios ao mesmo tempo — com um negócio em fase inicial e outro já estabelecido. No entanto, na contagem total, cada pessoa é considerada apenas uma vez", explica Paulo Bastos, analista da equipe GEM Brasil.
Além disso, 49,8% da população adulta não empreendedora se declara empreendedora potencial — ou seja, pretende abrir um negócio nos próximos três anos.
Há mais homens ou mulheres empreendedoras no Brasil?
Entre os empreendedores nascentes, ou seja, aqueles que estão dando os primeiros passos no próprio negócio, há equilíbrio entre homens e mulheres: cada grupo representa 50% do total, estimado em 12,3 milhões de pessoas.
No entanto, à medida que o negócio avança, a presença feminina diminui: entre os empreendedores novos, elas são 44,3%; já entre os estabelecidos, representam apenas 38,2%.
Empreendedores nascentes
Feminino: 50 %Masculino: 50 %
Feminino
50 %
Fonte: GEM 2024
Empreendedores novos
Feminino: 44,3 %Masculino: 55,7 %
Feminino
44,3 %
Fonte: GEM 2024
Empreendedores estabelecidos
Feminino: 38,2 %Masculino: 61,8 %
Feminino
38,2 %
Fonte: GEM 2024
Quantos anos tem em média o empreendedor?
A faixa etária predominante entre os empreendedores está entre 25 e 44 anos. No grupo nascente, 28,2% têm entre 25 e 34 anos, e 29,9% entre 35 e 44. Já entre os estabelecidos, as faixas de 35 a 54 anos concentram mais de 53% dos empreendedores, refletindo a maturidade exigida para manter um negócio por mais tempo. Jovens de 18 a 24 anos representam 11,2% dos empreendedores nascentes, mas apenas 3,6% dos estabelecidos.
Faixa etária dos empreendedores brasileiros
Nascentes Novos Estabelecidos
18 a 24 anos 11,2% 13,6% 3,6%
25 a 34 anos 28,2% 29,6% 17,4%
35 a 44 anos 29,9% 32% 28%
45 a 54 anos 16,4% 12,5% 26,9%
55 a 64 anos 14,4% 12,4% 24%
Fonte: GEM 2024
Qual é o nível de escolaridade do empreendedor brasileiro?
Em relação à escolaridade, o ensino médio completo é o nível predominante em todos os estágios. Ele é mencionado por 46,7% dos empreendedores nascentes e 41,5% dos estabelecidos. O ensino superior completo ou pós-graduação aparece em segundo lugar, com 27% entre os nascentes e 29,1% entre os empreendedores com negócios mais consolidados. A proporção de pessoas com escolaridade mais baixa (fundamental incompleto) é de apenas 7,8% entre os nascentes e 16,3% entre os estabelecidos.
Escolaridade dos empreendedores brasileiros
Nascentes Novos Estabelecidos
Fundamental incompleto 7,8% 9% 16,3%
Fundamental completo 18,5% 14,3% 13,1%
Médio completo 46,7% 48% 41,5%
Superior completo ou maior 27% 28,7% 29,1%
Fonte: GEM 2024
Qual é a renda familiar dos empreendedores brasileiros?
A renda familiar também influencia a trajetória empreendedora. Nos estágios iniciais, predominam pessoas com renda de até três salários mínimos: esse grupo representa 59,1% dos nascentes e 48,8% dos novos. Já entre os estabelecidos, há maior concentração nas faixas de renda mais alta: 29,3% têm renda familiar superior a seis salários mínimos e 27,8% entre três e seis salários.
Renda familiar dos empreendedores brasileiros
Nascentes Novos Estabelecidos
Até 1 salário mínimo 17,9% 11,4% 10,7%
Mais de 1 até 2 salários mínimos 24,6% 17,7% 14,9%
Mais de 2 até 3 salários mínimos 16,9% 18,1% 17,3%
Mais de 3 até 6 salários mínimos 22,9% 37,8% 27%
Mais de 6 salários mínimos 17,7% 15,1% 29,3%
Fonte: GEM 2024
Há mais empreendedores brancos, pretos, pardos, amarelos ou indígenas?
No recorte por raça/cor, os dados mostram uma presença significativa da população de pretos e pardos no empreendedorismo inicial. Entre os nascentes, 58,4% se autodeclaram pretos ou pardos, proporção que cai para 48,1% entre os empreendedores estabelecidos. Já os brancos representam 33,6% dos nascentes e 47,6% dos estabelecidos, indicando uma desigualdade de permanência e consolidação nos negócios.
Raça/cor dos empreendedores nascentes
Branca: 33,6 %Preta ou Parda: 58,4 %Outra: 8 %
Branca
33,6 %
Fonte: GEM 2024
Raça/cor dos empreendedores novos
Branca: 41,24 %Preta ou Parda: 55,46 %Outra: 3,3 %
Branca
41,24 %
Fonte: GEM 2024
Raça/cor dos empreendedores estabelecidos
Branca: 47,6 %Preta ou Parda: 48,1 %Outra: 4,3 %
Branca
47,6 %
Fonte: GEM 2024
O que motiva o empreendedor brasileiro?
Considerando as quatro principais razões mencionadas pelos empreendedores para iniciarem um negócio, a mais citada foi “fazer a diferença no mundo” (74,6%), seguida por “ganhar a vida porque os empregos são escassos” (73,9%) e “para construir uma grande riqueza ou uma renda muito alta” (69,3%). Esta última registrou a maior proporção desde o início da série histórica, apesar de ter sido a terceira mais mencionada.
A razão “ganhar a vida porque os empregos são escassos” apresentou, em 2024, o menor percentual da série histórica. Segundo o GEM 2024, os dados indicam mudanças na dinâmica das motivações empreendedoras no Brasil, com menor peso do desemprego e maior presença de fatores ligados à realização pessoal e ambição financeira.
O que motiva o empreendedor brasileiro?
PercentualPara ganhar a vida porque os empregos são escassosPara fazer a diferença no mundoPara construir uma grande riqueza ou uma renda muito alta
● Para ganhar a vida porque os empregos são escassos: 82
Fonte: GEM 2024
Quais são os setores mais comuns no empreendedorismo no Brasil?
Cinco setores concentram 64,8% das atividades empreendedoras em todos os estágios. Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas é o que tem maior concentração em todos os estágios, com 26,8% entre nascentes, 26,6% entre novos e 21,7% entre estabelecidos.
Principais atividades dos empreendedores por estágio
Denominação Nascentes Novos Estabelecidos
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 26,8% 26,6% 21,7%
Alojamento e alimentação 20% 12,2% 4,5%
Indústrias de transformação 10,1% 7,5% 14,6%
Atividades profissionais, científicas e técnicas 3,7% 10,6% 11,3%
Construção 7,4% 6,5% 11,3%
Outras atividades de serviços 7,8% 4,9% 7,8%
Saúde humana e serviços sociais 8% 4% 4,7%
Transporte, armazenagem e correio 3,3% 6,6% 5,4%
Atividades administrativas e serviços complementares 2,8% 4,4% 5,7%
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura 4,3% 3,3% 5,1%
Serviços domésticos 0% 4,5% 2%
Informação e comunicação 2,1% 2,5% 1,8%
Atividades imobiliárias 1,5% 1,1% 2,1%
Outras atividades 2,1% 5,3% 1,9%
Fonte: GEM 2024
Segundo Bastos, não é possível afirmar, de imediato, se um respondente que declarou atuar em uma atividade de manutenção de veículos, por exemplo, é dono de uma oficina ou se está em uma situação de "pejotização", como ocorre em casos em que o indivíduo abre um MEI como mecânico, mas trabalha para uma oficina maior.
"Não conseguimos dizer exatamente que são terceirizados. Mas em torno de 5% dos empreendedores atuam junto aos seus empregadores. É um indício de terceirização, mas não dá pra afirmar com precisão. Sabe-se que esses empregadores também são clientes desses empreendedores", afirma o analista.
O empreendedor brasileiro tem CNPJ?
O GEM classifica um indivíduo como empreendedor quando ele responde que "Sim" ao ser perguntado se está tentando abrir ou começando um novo negócio próprio. A definição independe do grau de formalização da atividade— ou seja, a existência de CNPJ. Ainda assim, a pesquisa retrata um aumento de negócios formalizados entre empreendedores iniciais.
"Muitos brasileiros, diante das demissões em massa, recorreram ao empreendedorismo como alternativa de sobrevivência durante a pandemia. Programas governamentais, como o Pronampe e outras medidas de apoio, estimularam a formalização de pequenos negócios, já que era necessário ter CNPJ", afirma Bastos.
Empreendedores iniciais que obtiveram CNPJ
2022
● : 38,9
Fonte: GEM 2024
Como os empreendedores usam tecnologia
O empreendedorismo brasileiro está fortemente conectado às tecnologias de comunicação e divulgação, segundo o GEM 2024. "Mesmo que em muitos casos o uso seja básico, como o contato com clientes via WhatsApp, trata-se de uma inserção importante no ambiente digital", diz Bastos.
Cerca de 95% dos empreendedores no Brasil utilizam algum tipo de tecnologia para a realização de suas atividades, especialmente em processos comerciais. Segundo os dados, aproximadamente 75% pretendem ampliar o uso dessas tecnologias nos próximos seis meses.
Empreendedores que já usam tecnologia
Nascentes Novos Estabelecidos Total
Já utiliza tecnologias digitais ou aplicativos para vender seus produtos ou serviços 97,5% 95,3% 91,2% 94,4%
Dos que já utilizam, pretendem utilizar mais tecnologias nos próximos seis meses 83,8% 80,7% 66,9% 76,1%
FONTE: REVISTA PGN